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Redes, produção de conteúdo e poder

  • contcomtec104
  • 18 de set. de 2019
  • 4 min de leitura

O conceito de “rede” é algo que não pode ser analisado apenas sob ótica. Em seu texto “Tramas da Rede”, Pierre Musso traz diversos conceitos de diferentes áreas sobre a palavra rede. Desde questões biológicas, medicinais, filosóficas e comunicacionais, uma definição mais generalista é a de Michel Serres: “de uma pluralidade de pontos ligados entre si por uma pluralidade de ramificações”. Quando analisamos a extensão dessa definição e nos aproximamos de conceitos culturais, comunicacionais e sob a ótica de relação de poderes, conseguimos entender como a influência da comunicação e da cultura perpassa por uma lógica de poderes intra e inter redes.


Podemos falar de rede com uma lógica de interligação entre pontos, nos quais estes exercem influência sob outros pontos e que podem ter ramificações extensas ou não. Neste sentido, podemos perceber o quanto pequenas comunidades possuem uma possibilidade de alcance de influência limitada dentro de sua rede do que quando comparamos a comunidades maiores. Quando trazemos para o sentido de comunicação e produção de conteúdo e relacionamos com a existência de relações de poderes entre estes pontos dentro da rede, visto que estamos falando de relações humanas, percebemos que alguns pontos conseguem deter uma influência maior que de outros.


Analisando, por exemplo, a produção de conteúdo e informação durante grande período da humanidade (entre os primeiros séculos até o século XIX) percebemos que a concentração do saber e da difusão do conhecimento limitava-se a poucas pessoas: nobres, filósofos e intelectuais da época, formando entre si uma rede. Neste caso uma rede com grande potência de conhecimento, porém com limitações em relação à sua expansividade, restrita por questões territoriais e comunicacionais, visto às tecnologias existentes no cenário. Assim definiu Jean-Louis Weissberg no texto “Paradoxos da Teleinformática”: ““[..] considerar que a difusão do livro impresso cria uma cultura da organização hierárquica, da espacialização planar, da localização, do resumo; cultura que se funda em programas de memorização como a catalogação, metamemorização por meio de índices, de arquivos de documentos.”.


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Após um grande tempo acompanhamos um período no qual os grandes controladores das massas como o Estado, representantes de religiões e burgueses, detiveram o controle da produção de conteúdo e informação repassada para a população em geral, fenômeno este que aconteceu em praticamente todos os países. Com isso, tendo poder das informações passadas para toda uma rede de pessoas que dependia e/ou servia a estes. Um grande caso de controle de informação se deu no início do que hoje chamamos “Indústria Cultural e meio de comunicação de Massa” conceitos criados por Theodor Adorno e Max Horkheimer no livro “Dialética do Esclarecimento”. Basicamente, o Estado detinha o poder e o intuito de “vender” sua ideologia através da comunicação massiva para toda a população, com característica de controle, repetição e censura às ideologias contrárias. O grande caso de estudo sobre esse assunto é o Nazismo e a ideologia imposta pelo governo alemão no início do século XX, no qual, ao controlar a produção de conteúdo e as mídias comunicacionais, detinha também o controle sob toda a rede, não apenas no sentido de receptividade de informação, mas também em unicidade de pensamento e ideologia. Com isso, a rede tinha uma grande potência de informação e também uma grande e moldável expansão.


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No caso acima, analisamos o quanto a utilização da mídia e sua relação com os poderes interferiam nos ritos comunicacionais para uma dada população. Quando avançamos para o período da era da informação, com o surgimento da Internet, o conceito de difusão de conhecimento através das redes “explode”. As barreiras antes existentes não são mais vistas e o poder de gerar e receber conteúdo para qualquer pessoa no mundo torna a rede ainda mais expandida, e talvez infinita. O surgimento da Internet também proporcionou, assim como cita Weissberg, o “desaparecimento dos intermediários no espaço público”, afinal, até que ponto o produtor do conteúdo é real? A hierarquia existente nos meios de comunicação tradicionais, anteriores à Internet, como rádio, televisão, livro ou carta, é de uma certa forma quebrada quando nos tornamos iguais em uma grande rede virtual.


Uma das maiores revoluções causadas pelo grande crescimento das redes virtuais e suas interligações é o foco no protagonismo dos pontos (atores) dessas redes. O poder que antigamente tínhamos que apenas receber de quem era considerado porta-voz ou detentor da informação agora está nas mãos de qualquer pessoa que esteja conectado a uma banda larga. Os conteúdos são produzidos de forma democrática, acessível e compartilhável. Com isso aconteceu um “boom” na produção de informação e os atores da rede conseguiram se tornar o foco produtor, e não só receptor. Com isso, a dinâmica de relacionamento humano, forma de adquirir conhecimento e de expressar opiniões mudaram e assumimos o papel de protagonistas.


Tal sentimento de protagonismo nos deu a possibilidade de experimentar a sensação de poder de uma forma nunca antes vista e sequer imaginável. Michel Foucault através de seu livro “A microfísica do Poder” segue uma linha que os poderes são construídos nas suas relações mais específicas e dentro de pequenas comunidades. O advento da popularização da produção de informação e protagonismo sobre os conteúdos fez com que tais relações de micropoderes fossem ainda mais visíveis e, trazendo para um período mais atual, controláveis. Porém, um controle diferente: através da dataficação das trocas de conteúdo e análise de comportamento dentro da rede virtual. Ao sermos “vigiados” em cada ação feita dentro de um ambiente virtual, antes idealizado por ser livre, anônimo e difusor, estamos sendo controlados e ditados por algo ou alguém, assim como somos em toda a humanidade. Por isso, fica a pergunta: será que somos realmente protagonistas dentro das redes que estamos conectados?

 
 
 

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