Influenciadores digitais e política: uma combinação que dá certo?
- contcomtec104
- 23 de out. de 2019
- 4 min de leitura
Sabemos do quanto a produção de conteúdo se expandiu e possibilitou que qualquer pessoa pudesse gravar um vídeo sobre qualquer coisa, ou que postasse o que bem entendesse nas redes sociais em geral. Desde o início do surgimento das principais redes sociais, que aqui destacamos o Youtube, Twitter, Facebook e mais atualmente o Instagram, pessoas se tornaram mais influentes e se aproximaram mais de outras pessoas.
No meio para o fim da década passada os primeiros youtubers apareceram com suas mais diversas formas de produção de conteúdo. O que mais surgiu foram pessoas fazendo vídeos sobre gastronomia, dicas de viagens e comédia. Mas do ponto de vista da política, como os youtubers começaram a aparecer?

Em uma época que o Brasil ainda vivia uma “paz” no cenário político-econômico, ainda não tinha muita gente produzindo conteúdo por não ter muita gente interessada, afinal, ainda temos uma crença que ‘política, religião e futebol não se discutem’. Mas esse cenário brasileiro vem mudando. Após diversos acontecimentos políticos extremamente questionáveis, a polarização começou a aparecer de forma latente e, consequentemente, o assunto virou um dos mais falados na Internet e assim começaram a surgir produtores de conteúdo e um crescimento da procura dos jovens sobre o assunto.
Atualmente os produtores de conteúdo de redes sociais foram denominados enquanto ‘influenciadores digitais’, pela sua grande influência na vida das pessoas e, principalmente dos jovens que estão cada dia mais conectados nas redes sociais. Numa época polarizada como vivemos hoje, é comum vermos influenciadores utilizando a produção de conteúdo para centralizar ainda mais tais discussões. Por exemplo: Nando Moura, rockeiro que se tornou uma das principais peças-chave da influência dos jovens para a eleição de Jair Bolsonaro, e Olavo de Carvalho, astrólogo que se auto-intitula filósofo que viu no Youtube uma forma de criar uma comunidade de seguidores de suas teorias estapafúrdias: estes dois são os principais exemplos da polarização para uma extrema direita.
Mas não é sobre isso que queremos falar aqui, mas sim quem são os influenciadores digitais que buscam coerência em seu discurso e contribuem para um debate mais rico e diverso?
Atualmente o youtuber jovem com maior influência política, Felipe Neto começou com o intuito de explanar sobre assuntos aleatórios da vida para buscar seguidores. Diversas vezes extremamente criticado no início de sua carreira no Youtube por falar de assuntos sem embasamento e por ser algumas vezes preconceituoso, Felipe conseguiu alcançar uma grande legião de fãs, tendo atualmente 34 milhões de inscritos no Youtube. Quando as eleições de 2018 começaram a ficar em evidência, o influenciador digital começou a produzir uma série de conteúdos contra o então candidato Jair Bolsonaro e, com isso, começou a ser atacado pelos seus eleitores, inclusive ameaçado de morte algumas vezes segundo o próprio youtuber. Porém isso só fez o Felipe ir cada vez mais a fundo em seus conteúdos contra o extremo conservadorismo defendendo as bandeiras das pautas identitárias e progressistas brasileiras.
Um dos casos que configurou Felipe Neto como ícone político aconteceu na recente Bienal de Livros do Rio de Janeiro, na qual a prefeitura do município ordenou que todas as edições de um livro que continha uma imagem de um beijo entre dois homens fossem censuradas e jogadas fora. Quando tal ordem se deflagrou, Felipe Neto comprou todas as edições que estavam na Bienal e promoveu uma grande distribuição e, consequentemente, manifestação contra censura e o preconceito contido neste ato. Tal ação do youtuber gerou uma repercussão mundial e foi aplaudida por toda classe progressista. Aqui conseguimos identificar a extensão da influência que começa no mundo digital e finaliza como uma ação de revolta na política presencial e com grande adesão de pessoas.
Parafraseando André Lemos em seu texto “Things (and People) Are The Tools Of Revolution!”: “Não é uma revolução do Twitter, não é uma revolução do Facebook. Não é uma revolução sem Twitter, não é uma revolução sem Facebook. É uma revolução na qual as mídias e redes sociais se constituíram como actantes importantes para a associação que a realizou.”. Sem o Youtube tais acontecimentos não seriam possíveis. Porém também não o seria sem o Felipe Neto e seu público. Ou seja: o ator e o público sempre existiram, porém o actante Youtube se torna peça-chave na construção do impacto que tais manifestações políticas acontecem. Por ser uma ferramenta interativa, diferentes dos formatos midiáticos de outrora, permite uma maior protagonização do público, que interage constantemente, e maior influência e poder de penetração de conteúdo do ator, que consegue destaque e impacto na vida “real”.

A principal questão é: como estaremos preparados para conseguir utilizar desse poder de influência para um futuro mais progressista em nosso país? O quão afastados do ideal político nós estamos e quais serão as estratégias para alcançar o ideal? As redes sociais e suas possibilidades são inúmeras e o poder de influência que pessoas ora desconhecidas atualmente tem sob milhões de adultos, jovens ou não, é muito grande. Cabe a nós e a estes influenciadores, utilizar tal poder para o bem estar do debate político.
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